Joseane L. da Silva
2- JUSTIFICATIVA
Este trabalho têm
importância social, pois o mesmo mostrará o impacto na sociedade de Canoas da
chegada do primeiro Salão do Reino das Testemunhas de Jeová, em 1965. Mostrará
na sociedade canoense as atividades de pregação e evangelismo dos mesmos. Além
da atividade de construção dos Salões do Reino, que são realizadas pelos
próprios membros das congregações. As realizações dos primeiros congressos no
município de Canoas, que foi um marco para essa geração de Testemunhas de Jeová
que chegaram ao município.
Já há trabalhos
acadêmicos que tratem da presença em Canoas das religiões Católica, Luterana, e
da Igreja dos Santos dos Últimos Dias. Como se vê, não há trabalhos que estudem
o crescimento da religião Testemunhas de Jeová no município de Canoas, mesmo
sendo uma religião tão polêmica, com características tão peculiares como o não
envolvimento com questões políticas, a não transfusão de sangue e o não
alistamento com nas forças armadas. Esse estudo é possível, através de leituras
em fontes bibliográficas, arquivos da instituição, pesquisas em jornais e
revistas da época da sua fundação até o momento, e possíveis entrevistas com
membros da instituição como irmãos, anciões e publicadores. Ainda que existam
trabalhos sobre a religião Testemunhas de Jeová, nenhum deles aborda de forma
mais específica o desenvolvimento e crescimento da religião no município de
Canoas, assim como, a forma de pregação e doutrina que eles exercem,
contribuindo com a diversidade religiosa do município.
A religião
Testemunhas de Jeová me interessa bastante, por ser uma religião contemporânea
que iniciou nos Estados Unidos por volta de 1880. De 230 países onde ela é
praticada, o Brasil é o terceiro país em número de adoradores entre batizados e
simpatizantes, perdendo somente para os Estados Unidos e México, ou seja, uma
religião americana que tem se expandido muito no Brasil. Também me chama muito
a atenção o método de pregação que eles exercem, assim como, a maneira de como
são ministradas as reuniões (cultos) nos Salões do Reino.
3- OBJETIVOS
1- Identificar e
analisar, por meio de leituras e pesquisas, o processo de instalação e
crescimento da congregação Testemunhas de Jeová no município de Canoas.
2- Demonstrar a
importância da expansão desta congregação para a ampliação da diversidade
religiosa no município de Canoas.
3- Identificar
quais os grupos sociais fundadores das Testemunhas de Jeová, suas etnias e
religiões anteriores.
4- Identificar na
oralidade dos depoentes as características dos nascidos Testemunhas de Jeová;
aos convertidos a essa religião, assim, como suas diferenças.
4- QUADRO TEÓRICO
As Testemunhas de
Jeová é um movimento de adoradores de Jeová Deus que surgiu em 1874, na
Pensilvânia EUA. Inicialmente eram um grupo pequeno de estudo bíblico, o qual
foi crescendo rapidamente. Por volta de 1880, já haviam formado inúmeras
congregações nos estados vizinhos. As Testemunhas de Jeová são
fundamentalistas, pois não praticam a transfusão de sangue, não saúdam a
bandeira, não prestam serviço militar e não festejam datas históricas e
aniversários, pois segundo eles, tudo isso é idolatria e desagrada a Jeová
Deus. As Testemunhas de Jeová fundamentam todos os seus ensinos nos versículos
bíblicos.
A formação de
seus líderes se dá pelo conhecimento bíblico. Todos se reconhecem como servos
de Jeová, não estabelecendo hierarquias e, ao contrário das igrejas cristãs,
não aceitam a trindade e negam a obra redentora de cristo. Afirmam que Jesus
voltou ao mundo em espírito em 1874, quando iniciou o movimento das Testemunhas
de Jeová. A grande maioria dos adeptos desse movimento costuma participar na
difusão de sua fé, batendo de porta em porta nas casas, fazendo circular a
Bíblia e suas revistas A Sentinela e a Despertai, as quais explicam quem são, o
que fazem e como vivem as Testemunhas de Jeová.
5- FONTES ORAIS
Para o
desenvolvimento deste trabalho são utilizados como afirma Meihy.et, all: Fonte oral é o registro de qualquer recurso
que guarda vestígios de manifestações da oralidade humana. Entrevistas
esporádicas feitas sem propósito explícito, gravações de músicas, absolutamente
tudo que é gravado e preservado se constitui em documento oral. Entrevista,
porém, e história em sentido estrito.
O ponto de
partida das entrevistas em história oral implica aceitar que os procedimentos
são no presente, como gravações, e envolvem expressões orais emitidas com
intenção de articular ideias orientadas a registrar ou explicar aspectos de
interesses planejados em projetos. Entrevista em história oral é a manifestação
do que se convencionou chamar de documentação oral, ou seja, suporte material
derivado de linguagem verbal expressa para esse fim. A documentação oral quando
aprendida por meio de gravações eletrônicas feitas com o propósito de registro
torna-se fonte oral. A história oral é uma parte do conjunto de fontes e sua
manifestação mais conhecida é a entrevista. Como procedimento específico, a
entrevista em história oral é uma fórmula programada e responde à existência de
projetos que a justificam. Convém lembrar que a palavra dita e gravada não
existe como fenômeno ou ação isolada. Muito do que é verbalizado ou integrado à
oralidade, como gesto, lágrima, riso, silêncios, pausas, interjeições ou mesmo
as expressões faciais, que na maioria das vezes não tem registros verbais
garantidos em gravações: podem integrar os discursos que devem ser trabalhados
para dar dimensão física ao que foi expresso em uma entrevista de história
oral. A consideração da entrevista além do que é registrado em palavras é um dos
desafios obrigatórios da história oral.
A história oral
como nos diz Heiry, é um conjunto de procedimentos que se inicia com a
elaboração, crescimento e desenvolvimento de um grupo de pessoas a serem
entrevistadas. Um projeto de história oral prevê planejamento das gravações com
data, local, tempo da entrevista; tudo devidamente pré-definido. Também é
fundamental a transcrição e estabelecimentos de textos; autorização para o uso;
arquivamento e, sempre que possível, a publicação dos resultados que devem, em
primeiro lugar, voltar ao grupo que gerou as entrevistas.
O compromisso com
a “devolução” dos resultados do projeto é condição básica para se justificar um
projeto de história oral. A condição “para quem” deve ficar explicada, pois os
projetos que se valem de entrevistas cumprem sempre um papel social. Seja para
instruir teses, dissertações, compor acervos ou funcionar como alerta temático,
os textos estabelecidos, em primeiro lugar, devem ser devolvidos aos
protagonistas geradores e, conforme o caso, à comunidade que os provocou.
Contudo para realizar um projeto de história oral fiel aos seus propósitos, não
se deve realizá-lo por vias indiretas, ou seja, por telefone ou por internet,
por exemplo. O contato direto de pessoa a pessoa, interfere de maneira absoluta
nas formas de exposição das narrações. Por outro lado, a ausência de
interlocução pessoal faz com que sejam menos espontâneas as declarações e, pior
do que isso, demandam variações narrativas que seriam diferentes. A história
oral como prática complexa e que integra diferentes etapas é sempre um sistema
articulado onde cada parte ou lance interfere e determina outro.
Outro fator muito
importante na elaboração de projeto de história oral é o uso das tecnologias,
uma das características mais evidentes da história oral remete à constante
atualização dos meios eletrônicos. A obrigatoriedade da participação da
eletrônica na história oral determina uma alteração nos antigos procedimentos
de captação de entrevistas, antes feitos na base de anotações ou da
memorização. A mediação da eletrônica é, aliás, uma das marcas da história oral
como um procedimento novo renovável. O que deve ficar firmado, porém, é que a
história oral não se faz sem a participação humana direta, sem o contato
pessoal. Mesmo não sendo possível dissociar a eletrônica dos contatos diretos
para a produção da história oral, sabe-se que nada substitui a percepção do
entrevistado no ambiente da gravação. A performance, ou seja, o desempenho é
essencial para se entender o sentido do encontro gravado. Olhos nos olhos,
perceber as vacilações ou o teor emotivo das palavras, notar o conjunto de
fatores reunidos na situação da entrevista é algo mais do que a capacidade de
registro pelas máquinas, que se limitam a guardar vozes, sons gerais, e
imagens. A percepção das emoções é bem mais complexa do que aparenta, e sua
captação se dá apenas pela presença física de pessoas. Contudo é preciso tomar
alguns cuidados técnicos e organizacionais antes das gravações como: as boas
condições dos aparelhos a serem usados e a gravação da matrícula da entrevista
que deve ser feita no começo do encontro, definindo: local e data, nome do
projeto, nome do colaborador a ser entrevistado; presença eventual de outras
pessoas com seus nomes; esses e outros tantos dados que podem aparecer no
projeto dependendo do tema, circunstâncias e número de pessoas a serem
entrevistadas.
A necessidade de se ativar ou materializar o que existe em
estado oral retido na memória, ou mesmo o que foi abafado por processos de
cerceamento, quase sempre acontece por desafios da própria comunidade, que não
quer deixar morrer determinadas experiências e que, para isso, produz situações
nas quais, no tempo presente, reinventam o passado não resolvido. Nesse
sentido, a história oral se mostra fator significativo, meio de manter a
experiência passada em estado de “presentificação”. Mas deve-se lembrar sempre
que não é apenas quando não existem documentos necessários que a história oral
acontece. Ela é vital também para produzir outras versões promovidas à luz de
documentos cartoriais consagrados e oficiais. Lembrando que os documentos
compulsados rotineiramente também produzem memória, torna-se importante,
sempre, manter acesa a curiosidade paralela que mantém dúvidas sobre certeza
das conclusões feitas em cima de documentos escritos. Em história oral, o
“grupal”, “social ou coletivo” não corresponde à soma dos particulares. O que
garante unidade e coerência às entrevistas enfeixadas em um mesmo conjunto é a
repetição de certos fatores que, por fim, caracteriza a memória coletiva. A
observância em relação à pessoa em sua unidade, contudo, é condição básica para
se formular o respeito à experiência individual que justifica o trabalho com
entrevista, mas vale no conjunto. Nesse sentido a história oral é sempre
social. Social, sobretudo porque o indivíduo só se explica na vida comunitária.
Daí a necessidade de definição dos ajustes identitários culturais.
A história oral temática é a solução que mais se aproxima das
expectativas acadêmicas que confundem história oral com documentação
convencional. Também é a mais passível de confrontos que regulam a partir de
datas, fatos, nomes e situações. Eu optei pela história oral temática porque
percebi que quando entrevistamos pessoas e as indagamos sobre determinado tema,
aprendemos e enxergamos outros aspectos e fatores sobre o tema em questão.
Aspectos esses, que não são se quer citados ou mencionados em livros e
documentos históricos; ou seja, aumentando a minha percepção e conhecimento
enquanto acadêmica sobre temáticas, fazendo com que eu adquira um olhar mais
cauteloso e observador sobre a comunidade e/ou grupo a ser entrevistado.
Quase sempre, a história oral
temática equivale a formulação de documentos que se opõem às situações
estabelecidas. Assim, por natureza, a história oral temática é sempre de
caráter social e nela as entrevistas não se sustentam sozinhas ou em verões
únicas. Decorrência natural de sua existência, a história oral temática pura
deve promover debates com redes capazes de nutrir opiniões diversas. Em geral,
a história oral temática é usada como metodologia ou técnica e, dado, o foco
temático precisado no projeto, torna-se um meio de busca de esclarecimentos de
situações conflitantes, polêmicas, contraditórias. Dado seu caráter específico,
a história oral temática tem características bem diferentes da história oral de
vida. Detalhes da história pessoal do narrador apenas interessam na medida em
que revela aspectos úteis à informação temática central. Neste contexto o teor
testemunhal, se torna a chave que abre os compartimentos escurecidos por
versões que devem ser resolvidas pelo narrador, o qual deverá ter preparo e
organização para tal.
A memória, como propriedade de
conservar certas informações, nos leva a refletir sobre fatos e acontecimentos
do nosso passado, remetendo-nos, em primeiro lugar, a analisar e reconstruir
determinadas opiniões e certezas, tanto da nossa vida pessoal, como na
construção da história das sociedades. A noção de aprendizagem, importante na
fase de aquisição da memória, desperta o interesse pelos diversos sistemas de
educação da memória que existiram nas várias sociedades e em diferentes épocas.
Assim, Pierre Janet “considera que o ato mnemônico fundamental é o
comportamento narrativo”, que se caracteriza antes de mais pela função social,
pois se trata de comunicação a outrem de uma informação, na ausência do
acontecimento ou do objeto que constitui o seu motivo. A utilização de uma
linguagem falada, depois escrita, é de fato uma extensão fundamental das
possibilidades de armazenamento da nossa memória que, graças a isso, pode sair
dos limites físicos do nosso corpo para se interpor quer nos outros, quer nas
bibliotecas. Isto significa que, antes de ser falada ou escrita existe uma
certa linguagem sob a forma de armazenamento de informações na nossa memória.
Do mesmo modo, a memória coletiva foi posta em jogo de forma importante na luta
das forças sociais pelo poder. Tornar-se senhores da memória e do esquecimento
é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que
dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios
da história são reveladores destes mecanismos de manipulação da memória
coletiva.
O estudo da memória social é um dos meios fundamentais de
abordar os problemas do tempo e da história, relativamente os quais a memória
está ora em retraimento, ora em transbordamento. No estudo histórico da memória
histórica é necessário dar uma importância especial às diferenças entre
sociedades de memória essencialmente oral e sociedades de memória
essencialmente escritas, como também às fases de transição da oralidade.
6- PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
A metodologia
dessa pesquisa trata-se de identificar e analisar as memórias e olhares de
indivíduos que fizeram parte da instalação e chegada das Congregações das
Testemunhas de Jeová no município de Canoas a partir de 1965. Usando como fonte
base para a pesquisa relatos orais de pessoas que participaram da disseminação
dessa religião no município, assim como as dificuldades e desafios que esta
mesma teve para adquirir espaço nas comunidades locais, buscando trazer a tona
lembranças quase esquecidas com o tempo. Analisar as narrativas dos
entrevistados sob a luz das discussões teóricas apresentadas anteriormente.
Os entrevistados
que escolhi são pessoas comuns de distintas profissões, etnias e classes
sociais, que propagam sua fé com muita serenidade e perseverança. Decidi fazer
o meu projeto de história oral sobre eles porque eu já venho observando-os há
algum tempo, e percebi que eles sofrem um certo tipo de discriminação dos
membros de outras religiões, até mesmo, por terem características tão
peculiares como a não transfusão de sangue e o não envolvimento com as forças
armadas. Achei que fosse o momento de dar-lhes a oportunidade de falarem sobre
sua fé, crença e propósito de vida, contribuindo assim com o meu conhecimento
acadêmico sobre diversidade religiosa.
O depoente nº1,
de 68 anos, é um senhor aposentado, branco, ex-funcionário de fábrica,
ex-católico e pertencente a classe média; hoje ancião em uma das Congregações
das Testemunhas de Jeová no município de Canoas.
A depoente nº2,
de 48 anos, professora das séries iniciais do Ensino Fundamental, negra,
ex-catequista e pobre.
O depoente nº3,
de 54 anos, gerente de uma microempresa de cunho comercial, branco, ex-membro
de uma outra religião. Todos os meus três depoentes são batizados há mais de 20
anos.
Para a
reconstrução dessa memória da chegada das Testemunhas de Jeová no município de
Canoas, segue abaixo o questionário elaborado e conversado com três
entrevistados que fizeram e fazem da propagação dessa religião.
REFERÊNCIAS
Fontes Primárias
Documentos
Históricos
Arquivos da
instituição
Documentos
Históricos do período como jornais, revistas, brochuras e panfletos.
Relatos orais de
pessoas que fizeram parte da instalação e construção das primeiras congregações
das Testemunhas de Jeová no município de Canoas.
Fontes Secundárias.
ELIADE, Mircea. História das crenças religiosas. Tomo
III. Rio de Janeiro, Zahar, 1984.
LE GOFF, Jacques.
História e Memória, SP: Editora da
UNICAMP, 1992.
MEIHY, José
Carlos Sebe B. HOLANDA, Fabíola. História
oral: como fazer, como pensar/ José Carlos Sebe Bom Meihy, Fabíola Holanda.-
São Paulo: Contexto, 2007.
Testemunhas de
Jeová: Proclamadores do Reino de Deus. São Paulo: STVBT,