Rasputin
é uma daquelas figuras que entraram para história mais devido à ignorância dos
que o cercavam e pelo oportunismo do que por méritos que fizessem a diferença
para o povo da Rússia e para o Czar. Um exemplo de “profeta” dos interesses
daqueles que o cercavam. O restante da história é cercada de mito na sua vida e
morte.
A
última Czarina da Rússia dizia que Rasputin era uma criatura mística e dotada
de poderes especiais. O monge IIiodor, seu inimigo, chamava-o de “diabo santo”.
E o embaixador francês em Moscou Mauricie Paléologue, descrevia-o para o seu
governo como uma pessoa “elogiada por muitos, maldita por outros tantos, mas
temida por todos”.
Quem
era, afinal Grigori Lefimovitch, mais conhecido como Rasputin por causa da
aldeia onde nascerá, Pokrovskoye, cujo nome original era Padkino Rasputje.
Uma
analise apurada de toda a documentação que ficou sobre sua vida mostra que
Rasputin não era uma pessoa de bons costumes por assim disser, mas embora não
se pudesse afirmar que fosse mal, estava mais pra um oportunista; tinha seus
hábitos libertinos, o que mostra que ao contrario do que muitos demagogos
afirmam não era nenhum santo. Era um homem exuberante, dotado de qualidades,
mas tinha também muitas fraquezas, pois aqueles que o conheciam pessoalmente
afirmavam ele ser cheio de contradições intimas. Acabou encontrando-se em um
ambiente particular em um momento também particular da história de seu país,
sem estar preparado para a ambas as situações”.
De qualquer modo, acreditavam que
possui-se qualidades incomuns. Uma delas era supostamente ser capaz de prever o
futuro. Rasputin teria previsto a própria morte, o extermínio da família
imperial russa, o segundo conflito mundial e muitos outros acontecimentos.
Rasputin
nasceu em 1872 e logo começou a trabalhar com o pai que era carroceiro.
Aos
22 anos afirmava que teve o que chamou de “uma visão divina“. Enquanto estava
arando um campo, ouviu a suas costas um canto angelical e ao virar-se viu uma
figura de Nossa Senhora, acompanhada por um grande número de anjos.
“Foi
como um aviso”, comentaria anos depois porque acabou se encaminhado para a vida
religiosa.
Passado
algum tempo, Rasputin travou conhecimento com o noviço Mileti Saborovsky,
estudante da academia eclesiástica que lhe pedira para levá-lo ao mosteiro de
Werchoturje. Durante a viagem os dois jovens falaram muito sobre a “verdadeira
fé em Deus”, chegados ao mosteiro, o seminarista acabou por convencer Rasputin
a não retornar, ficando em companhia dos monges. Foi uma longa estada, durante
a qual Rasputin teve contato com muitos monges que para lá eram enviados para
serem “purificados”, uma vez que haviam sofrido desvios heréticos”.
No
fim desse período ele começa a missão do camponês siberiano. Viaja de aldeia em
aldeia, “prega”, “abençoa”, “conforta”. As pessoas começam então a falar desse
religioso que se dedica a consolar os humildes e, na transmissão oral dessas
notícias, a realidade ganha os retoques da fantasia. Os relatos dizem que
possui poderes excepcionais, que é capaz de curar os doentes, que seus olhos
possuem “um fascínio angélico e ao mesmo tempo diabólico”.
Essas
histórias chegam até a aristocracia russa que o descreve “como um homem
inquieto, como se procurasse alguma coisa. Tem voz rouca, o comportamento rude
dos camponeses e mãos cheias de calos. Fala sobre temas religiosos e místicos
com entusiasmo invulgar. E com entusiasmo igual discorre sobre as fraquezas
humanas.”
Em
pouco tempo torna-se um dos favoritos da elite russa de então, e com o sucesso
melhoram suas condições econômicas.
Seu
poder, entretanto, alcança um ponto ainda mais alto quando consegue
supostamente “curar” o herdeiro do czar. O Príncipe Alexei era hemofílico, que
ficou ferido ao brincar no jardim. Rasputin foi chamado pela própria czarina,
passou a mão sobre o menino em oração e o mesmo sarou rapidamente.
Depois
de algum tempo, os conselheiros do czar decidiram sugerir ao soberano que
afastasse Rasputin da corte. Estavam surgindo muitos rumores estranhos a
respeito desse personagem misterioso. O Czar Nicolau II acabou cedendo e
ofereceu a Novykh (como Rasputin era chamado na corte) a soma de 200 000
rublos, uma importância enorme para a época, com a condição de deixar a corte e
ir para uma aldeia bem afastada da capital. Mas Rasputin recusou. O czar então
usou outros meios para afastar o “vidente” e Rasputin, ao deixar a capital,
aparentemente amaldiçoa o czaréviche ( Alexei, o hemofílico herdeiro do trono),
dizendo que o mesmo ficaria novamente gravemente doente se o czar o afastasse de São Petersburgo.
E
foi o que ocorreu. Mas se foi pela maldição tenho dúvidas, pois o mesmo era
portador de uma doença grave até para a atualidade, então as chances de voltar
a ficar doente novamente eram grandes, questão de oportunismo de Rasputin.
A
czarina manda buscar o vidente e este, depois de conseguir novamente a “cura”
do príncipe herdeiro, instala-se definitivamente na corte imperial.
Em
sua nova fase, atinge o nível máximo de poder quando consegue nomear Sturmer
ministro. Nessa época, contam os biógrafos, o czar já não tomava nenhuma
decisão importante sem antes consultar Rasputin, o que começou a incomodar
tanto os conselheiros imperiais quanto outros membros da aristocracia.
Um
destes, o Príncipe Felix Yussupov, organizou uma conspiração contra Rasputin
com a colaboração contra Rasputin com a colaboração do Grão-Duque Dimitri
Pavlovitch – conspiração destinada a ter um resultado melhor que a tentativa já feita anteriormente pelo monge
IIiodor, dois anos antes, quando levou a prostituta Kionya a esfaquear o
“vidente”, convencida de estava matando o Anticristo.
O
relato que segue possui diversas versões, mas mesmo as mais sutis demonstram
que beira mais o mito do que a realidade. Preenchendo os requisitos para a
criação de um grande final para o “profeta” ou “vidente” Rasputin.
O
Príncipe Yussupov convidou Rasputin para seu palácio, onde lhe ofereceu doces
de chocolate recheados de cianeto e vinho ao qual também havia sido adicionado
esse veneno. Rasputin comeu e bebeu em grande quantidade, mas não deu nenhum
sinal de envenenamento, o que perturbou os conspiradores. O Príncipe, então,
passou a tocar guitarra, conseguindo que Rasputin dormisse, e aproveitou esse
estado para lhe disparar um tiro no coração, com o fim de “abreviar sua
agonia”.
Algum
tempo depois, quando o príncipe e seus aliados voltaram para se livrar do corpo
do “vidente”, foram surpreendidos por um quadro apavorante. Rasputin, coberto
de sangue, dirigia-se vacilante para a porta de saída. No momento, ninguém teve
a coragem de impedi-lo, mas depois foi alcançado ainda no jardim e novamente
alvejado por numerosos disparos.
Seu
corpo, então, foi lançado no rio Neva.
Dois
dias depois, ao cadáver de Rasputin reapareceu à superfície do rio, com as mãos
e os pés amarrados, tendo a perícia policial registrado que “Grigori
Lefimovitch vulgo Rasputin, havia sido jogado no rio ainda vivo”.
A última página da vida
desse personagem enigmático e, sob alguns aspectos, excepcional veio para
alguns confirmar seus dons sobrenaturais.
Para outros, foi certamente a grande resistência física de Rasputin a
responsável por esses fatos.
Você
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BASCHERA,
Renzo. Os Grandes Profetas. São Paulo, Ed. Nova Cultural Ltda, 1985.