quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

As Testemunhas de Jeová no município de Canoas/RS, 1965 até 2015.

 Joseane L. da Silva
2- JUSTIFICATIVA                      
Este trabalho têm importância social, pois o mesmo mostrará o impacto na sociedade de Canoas da chegada do primeiro Salão do Reino das Testemunhas de Jeová, em 1965. Mostrará na sociedade canoense as atividades de pregação e evangelismo dos mesmos. Além da atividade de construção dos Salões do Reino, que são realizadas pelos próprios membros das congregações. As realizações dos primeiros congressos no município de Canoas, que foi um marco para essa geração de Testemunhas de Jeová que chegaram ao município. 

Já há trabalhos acadêmicos que tratem da presença em Canoas das religiões Católica, Luterana, e da Igreja dos Santos dos Últimos Dias. Como se vê, não há trabalhos que estudem o crescimento da religião Testemunhas de Jeová no município de Canoas, mesmo sendo uma religião tão polêmica, com características tão peculiares como o não envolvimento com questões políticas, a não transfusão de sangue e o não alistamento com nas forças armadas. Esse estudo é possível, através de leituras em fontes bibliográficas, arquivos da instituição, pesquisas em jornais e revistas da época da sua fundação até o momento, e possíveis entrevistas com membros da instituição como irmãos, anciões e publicadores. Ainda que existam trabalhos sobre a religião Testemunhas de Jeová, nenhum deles aborda de forma mais específica o desenvolvimento e crescimento da religião no município de Canoas, assim como, a forma de pregação e doutrina que eles exercem, contribuindo com a diversidade religiosa do município.

A religião Testemunhas de Jeová me interessa bastante, por ser uma religião contemporânea que iniciou nos Estados Unidos por volta de 1880. De 230 países onde ela é praticada, o Brasil é o terceiro país em número de adoradores entre batizados e simpatizantes, perdendo somente para os Estados Unidos e México, ou seja, uma religião americana que tem se expandido muito no Brasil. Também me chama muito a atenção o método de pregação que eles exercem, assim como, a maneira de como são ministradas as reuniões (cultos) nos Salões do Reino.

3- OBJETIVOS

1- Identificar e analisar, por meio de leituras e pesquisas, o processo de instalação e crescimento da congregação Testemunhas de Jeová no município de Canoas.
2- Demonstrar a importância da expansão desta congregação para a ampliação da diversidade religiosa no município de Canoas.
3- Identificar quais os grupos sociais fundadores das Testemunhas de Jeová, suas etnias e religiões anteriores.
4- Identificar na oralidade dos depoentes as características dos nascidos Testemunhas de Jeová; aos convertidos a essa religião, assim, como suas diferenças.

4- QUADRO TEÓRICO

As Testemunhas de Jeová é um movimento de adoradores de Jeová Deus que surgiu em 1874, na Pensilvânia EUA. Inicialmente eram um grupo pequeno de estudo bíblico, o qual foi crescendo rapidamente. Por volta de 1880, já haviam formado inúmeras congregações nos estados vizinhos. As Testemunhas de Jeová são fundamentalistas, pois não praticam a transfusão de sangue, não saúdam a bandeira, não prestam serviço militar e não festejam datas históricas e aniversários, pois segundo eles, tudo isso é idolatria e desagrada a Jeová Deus. As Testemunhas de Jeová fundamentam todos os seus ensinos nos versículos bíblicos.

A formação de seus líderes se dá pelo conhecimento bíblico. Todos se reconhecem como servos de Jeová, não estabelecendo hierarquias e, ao contrário das igrejas cristãs, não aceitam a trindade e negam a obra redentora de cristo. Afirmam que Jesus voltou ao mundo em espírito em 1874, quando iniciou o movimento das Testemunhas de Jeová. A grande maioria dos adeptos desse movimento costuma participar na difusão de sua fé, batendo de porta em porta nas casas, fazendo circular a Bíblia e suas revistas A Sentinela e a Despertai, as quais explicam quem são, o que fazem e como vivem as Testemunhas de Jeová.

5- FONTES ORAIS

Para o desenvolvimento deste trabalho são utilizados como afirma Meihy.et, all:  Fonte oral é o registro de qualquer recurso que guarda vestígios de manifestações da oralidade humana. Entrevistas esporádicas feitas sem propósito explícito, gravações de músicas, absolutamente tudo que é gravado e preservado se constitui em documento oral. Entrevista, porém, e história em sentido estrito.

O ponto de partida das entrevistas em história oral implica aceitar que os procedimentos são no presente, como gravações, e envolvem expressões orais emitidas com intenção de articular ideias orientadas a registrar ou explicar aspectos de interesses planejados em projetos. Entrevista em história oral é a manifestação do que se convencionou chamar de documentação oral, ou seja, suporte material derivado de linguagem verbal expressa para esse fim. A documentação oral quando aprendida por meio de gravações eletrônicas feitas com o propósito de registro torna-se fonte oral. A história oral é uma parte do conjunto de fontes e sua manifestação mais conhecida é a entrevista. Como procedimento específico, a entrevista em história oral é uma fórmula programada e responde à existência de projetos que a justificam. Convém lembrar que a palavra dita e gravada não existe como fenômeno ou ação isolada. Muito do que é verbalizado ou integrado à oralidade, como gesto, lágrima, riso, silêncios, pausas, interjeições ou mesmo as expressões faciais, que na maioria das vezes não tem registros verbais garantidos em gravações: podem integrar os discursos que devem ser trabalhados para dar dimensão física ao que foi expresso em uma entrevista de história oral. A consideração da entrevista além do que é registrado em palavras é um dos desafios obrigatórios da história oral.

A história oral como nos diz Heiry, é um conjunto de procedimentos que se inicia com a elaboração, crescimento e desenvolvimento de um grupo de pessoas a serem entrevistadas. Um projeto de história oral prevê planejamento das gravações com data, local, tempo da entrevista; tudo devidamente pré-definido. Também é fundamental a transcrição e estabelecimentos de textos; autorização para o uso; arquivamento e, sempre que possível, a publicação dos resultados que devem, em primeiro lugar, voltar ao grupo que gerou as entrevistas.

O compromisso com a “devolução” dos resultados do projeto é condição básica para se justificar um projeto de história oral. A condição “para quem” deve ficar explicada, pois os projetos que se valem de entrevistas cumprem sempre um papel social. Seja para instruir teses, dissertações, compor acervos ou funcionar como alerta temático, os textos estabelecidos, em primeiro lugar, devem ser devolvidos aos protagonistas geradores e, conforme o caso, à comunidade que os provocou. Contudo para realizar um projeto de história oral fiel aos seus propósitos, não se deve realizá-lo por vias indiretas, ou seja, por telefone ou por internet, por exemplo. O contato direto de pessoa a pessoa, interfere de maneira absoluta nas formas de exposição das narrações. Por outro lado, a ausência de interlocução pessoal faz com que sejam menos espontâneas as declarações e, pior do que isso, demandam variações narrativas que seriam diferentes. A história oral como prática complexa e que integra diferentes etapas é sempre um sistema articulado onde cada parte ou lance interfere e determina outro.

Outro fator muito importante na elaboração de projeto de história oral é o uso das tecnologias, uma das características mais evidentes da história oral remete à constante atualização dos meios eletrônicos. A obrigatoriedade da participação da eletrônica na história oral determina uma alteração nos antigos procedimentos de captação de entrevistas, antes feitos na base de anotações ou da memorização. A mediação da eletrônica é, aliás, uma das marcas da história oral como um procedimento novo renovável. O que deve ficar firmado, porém, é que a história oral não se faz sem a participação humana direta, sem o contato pessoal. Mesmo não sendo possível dissociar a eletrônica dos contatos diretos para a produção da história oral, sabe-se que nada substitui a percepção do entrevistado no ambiente da gravação. A performance, ou seja, o desempenho é essencial para se entender o sentido do encontro gravado. Olhos nos olhos, perceber as vacilações ou o teor emotivo das palavras, notar o conjunto de fatores reunidos na situação da entrevista é algo mais do que a capacidade de registro pelas máquinas, que se limitam a guardar vozes, sons gerais, e imagens. A percepção das emoções é bem mais complexa do que aparenta, e sua captação se dá apenas pela presença física de pessoas. Contudo é preciso tomar alguns cuidados técnicos e organizacionais antes das gravações como: as boas condições dos aparelhos a serem usados e a gravação da matrícula da entrevista que deve ser feita no começo do encontro, definindo: local e data, nome do projeto, nome do colaborador a ser entrevistado; presença eventual de outras pessoas com seus nomes; esses e outros tantos dados que podem aparecer no projeto dependendo do tema, circunstâncias e número de pessoas a serem entrevistadas.

A necessidade de se ativar ou materializar o que existe em estado oral retido na memória, ou mesmo o que foi abafado por processos de cerceamento, quase sempre acontece por desafios da própria comunidade, que não quer deixar morrer determinadas experiências e que, para isso, produz situações nas quais, no tempo presente, reinventam o passado não resolvido. Nesse sentido, a história oral se mostra fator significativo, meio de manter a experiência passada em estado de “presentificação”. Mas deve-se lembrar sempre que não é apenas quando não existem documentos necessários que a história oral acontece. Ela é vital também para produzir outras versões promovidas à luz de documentos cartoriais consagrados e oficiais. Lembrando que os documentos compulsados rotineiramente também produzem memória, torna-se importante, sempre, manter acesa a curiosidade paralela que mantém dúvidas sobre certeza das conclusões feitas em cima de documentos escritos. Em história oral, o “grupal”, “social ou coletivo” não corresponde à soma dos particulares. O que garante unidade e coerência às entrevistas enfeixadas em um mesmo conjunto é a repetição de certos fatores que, por fim, caracteriza a memória coletiva. A observância em relação à pessoa em sua unidade, contudo, é condição básica para se formular o respeito à experiência individual que justifica o trabalho com entrevista, mas vale no conjunto. Nesse sentido a história oral é sempre social. Social, sobretudo porque o indivíduo só se explica na vida comunitária. Daí a necessidade de definição dos ajustes identitários culturais.

A história oral temática é a solução que mais se aproxima das expectativas acadêmicas que confundem história oral com documentação convencional. Também é a mais passível de confrontos que regulam a partir de datas, fatos, nomes e situações. Eu optei pela história oral temática porque percebi que quando entrevistamos pessoas e as indagamos sobre determinado tema, aprendemos e enxergamos outros aspectos e fatores sobre o tema em questão. Aspectos esses, que não são se quer citados ou mencionados em livros e documentos históricos; ou seja, aumentando a minha percepção e conhecimento enquanto acadêmica sobre temáticas, fazendo com que eu adquira um olhar mais cauteloso e observador sobre a comunidade e/ou grupo a ser entrevistado.

            Quase sempre, a história oral temática equivale a formulação de documentos que se opõem às situações estabelecidas. Assim, por natureza, a história oral temática é sempre de caráter social e nela as entrevistas não se sustentam sozinhas ou em verões únicas. Decorrência natural de sua existência, a história oral temática pura deve promover debates com redes capazes de nutrir opiniões diversas. Em geral, a história oral temática é usada como metodologia ou técnica e, dado, o foco temático precisado no projeto, torna-se um meio de busca de esclarecimentos de situações conflitantes, polêmicas, contraditórias. Dado seu caráter específico, a história oral temática tem características bem diferentes da história oral de vida. Detalhes da história pessoal do narrador apenas interessam na medida em que revela aspectos úteis à informação temática central. Neste contexto o teor testemunhal, se torna a chave que abre os compartimentos escurecidos por versões que devem ser resolvidas pelo narrador, o qual deverá ter preparo e organização para tal.

            A memória, como propriedade de conservar certas informações, nos leva a refletir sobre fatos e acontecimentos do nosso passado, remetendo-nos, em primeiro lugar, a analisar e reconstruir determinadas opiniões e certezas, tanto da nossa vida pessoal, como na construção da história das sociedades. A noção de aprendizagem, importante na fase de aquisição da memória, desperta o interesse pelos diversos sistemas de educação da memória que existiram nas várias sociedades e em diferentes épocas. Assim, Pierre Janet “considera que o ato mnemônico fundamental é o comportamento narrativo”, que se caracteriza antes de mais pela função social, pois se trata de comunicação a outrem de uma informação, na ausência do acontecimento ou do objeto que constitui o seu motivo. A utilização de uma linguagem falada, depois escrita, é de fato uma extensão fundamental das possibilidades de armazenamento da nossa memória que, graças a isso, pode sair dos limites físicos do nosso corpo para se interpor quer nos outros, quer nas bibliotecas. Isto significa que, antes de ser falada ou escrita existe uma certa linguagem sob a forma de armazenamento de informações na nossa memória. Do mesmo modo, a memória coletiva foi posta em jogo de forma importante na luta das forças sociais pelo poder. Tornar-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores destes mecanismos de manipulação da memória coletiva.

O estudo da memória social é um dos meios fundamentais de abordar os problemas do tempo e da história, relativamente os quais a memória está ora em retraimento, ora em transbordamento. No estudo histórico da memória histórica é necessário dar uma importância especial às diferenças entre sociedades de memória essencialmente oral e sociedades de memória essencialmente escritas, como também às fases de transição da oralidade.

6- PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

A metodologia dessa pesquisa trata-se de identificar e analisar as memórias e olhares de indivíduos que fizeram parte da instalação e chegada das Congregações das Testemunhas de Jeová no município de Canoas a partir de 1965. Usando como fonte base para a pesquisa relatos orais de pessoas que participaram da disseminação dessa religião no município, assim como as dificuldades e desafios que esta mesma teve para adquirir espaço nas comunidades locais, buscando trazer a tona lembranças quase esquecidas com o tempo. Analisar as narrativas dos entrevistados sob a luz das discussões teóricas apresentadas anteriormente.

Os entrevistados que escolhi são pessoas comuns de distintas profissões, etnias e classes sociais, que propagam sua fé com muita serenidade e perseverança. Decidi fazer o meu projeto de história oral sobre eles porque eu já venho observando-os há algum tempo, e percebi que eles sofrem um certo tipo de discriminação dos membros de outras religiões, até mesmo, por terem características tão peculiares como a não transfusão de sangue e o não envolvimento com as forças armadas. Achei que fosse o momento de dar-lhes a oportunidade de falarem sobre sua fé, crença e propósito de vida, contribuindo assim com o meu conhecimento acadêmico sobre diversidade religiosa.

O depoente nº1, de 68 anos, é um senhor aposentado, branco, ex-funcionário de fábrica, ex-católico e pertencente a classe média; hoje ancião em uma das Congregações das Testemunhas de Jeová no município de Canoas.

A depoente nº2, de 48 anos, professora das séries iniciais do Ensino Fundamental, negra, ex-catequista e pobre.

O depoente nº3, de 54 anos, gerente de uma microempresa de cunho comercial, branco, ex-membro de uma outra religião. Todos os meus três depoentes são batizados há mais de 20 anos.


Para a reconstrução dessa memória da chegada das Testemunhas de Jeová no município de Canoas, segue abaixo o questionário elaborado e conversado com três entrevistados que fizeram e fazem da propagação dessa religião.

REFERÊNCIAS

Fontes Primárias
Documentos Históricos
Arquivos da instituição
Documentos Históricos do período como jornais, revistas, brochuras e panfletos.
Relatos orais de pessoas que fizeram parte da instalação e construção das primeiras congregações das Testemunhas de Jeová no município de Canoas.
Fontes Secundárias.
ELIADE, Mircea. História das crenças religiosas. Tomo III. Rio de Janeiro, Zahar, 1984.
LE GOFF, Jacques. História e Memória, SP: Editora da UNICAMP, 1992.
MEIHY, José Carlos Sebe B. HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer, como pensar/ José Carlos Sebe Bom Meihy, Fabíola Holanda.- São Paulo: Contexto, 2007.
Testemunhas de Jeová: Proclamadores do Reino de Deus. São Paulo: STVBT,