O relatório que se
segue visa analisar o filme produzido e dirigido por Charles Spencer Chaplin,
Tempos Modernos e sua relação com os eventos históricos estudados na disciplina
de História Moderna do Século XVII e XVIII, com foco na Revolução Industrial. O
filme passasse na década de 1930, durante o crash da bolsa de valores de Nova
Iorque (1929), conhecida também como Grande Depressão. No filme Chaplin
interpreta o personagem vagabundo-operário.
No inicio do filme aparece uma cena um tanto emblemática,
onde vemos um rebanho de ovelhas avançando, mas se o telespectador não for
atento passará despercebido que dentre elas há uma ovelha negra. Chaplin era um
humanista, e como tal, suas obras sempre possuem várias críticas a sociedade e
a suas diversas facetas políticas como o fordismo, militarismo, imperialismo,
nazismo, capitalismo e tantas outras formas de opressão ou manipulação do homem
pelo homem. Mas o que Chaplin tenta passar ao seu publico por meio dessa imagem
da ovelha negra dentre as brancas? Pois bem, essa ovelha negra representa
exatamente o vagabundo-operário interpretado por Chaplin, pois nosso herói irá
opor-se ao sistema industriário vigente que submete a escravização os
operários. No desenvolver da trama o operário-vagabundo simboliza a resistência
do povo, diante da opressão da sociedade industrial moderna.
Parafraseando a obra de Chaplin, não posso deixar de
citar o livro, A Revolução Industrial de Francisco Iglésias, que nos deixa uma
visão bem clara da situação vivida pelos trabalhadores desse momento da
história humana:
“Já o proletariado desempenha
tarefas rudes, pesadas, e em ambientes nocivos à saúde e que os leva a vida
curta. Falta-lhes segurança, os acidentes com as novas máquinas são comuns e
não há previdência. No trabalho consomem-se mulheres e crianças, de ínfima
idade (até de quatro anos, com horário de 10 a 16 horas), como se vê nas
descrições históricas de Marx em O Capital, no livro de Mantroux, ou – dentre
outros – entre outros – nos romances de Charles Dickens (1812-70), que
testemunhou a realidade.”
Francisco Iglésias,
A Revolução Industrial. Pg. 104.
Na sequência
temos as cenas dentro da fábrica, e podemos observar os trabalhadores
manufaturando peças, enquanto, elas passam em uma esteira. Nosso herói, o
vagabundo-operário não consegue acompanhar o ritmo frenético da máquina e não realiza
sua função a tempo de acompanhar seus companheiros de trabalho. Nesse momento
do filme em particular fica claro a dificuldade do homem permanecer lucido diante
do insana máquina e seus proprietários burgueses, que veem o operário apenas
como um complemente necessário aonde a máquina não se pode fazer presente
naquele momento (por enquanto).
Em meio ao
alucinante e anormal trabalho braçal na fábrica, o personagem chapliniano
enlouquece, e apresenta dificuldade de parar o movimento repetitivo e literalmente surta, passando por diversos
apuros na fábrica. Diante dos acontecimentos nosso herói cai na esteira e é
puxado pela máquina para dentro das engrenagens, cena que veio a tornar-se
épica no cinema. Desse acontecimento podemos encontrar algumas metáforas
chaplinianas. O homem entre as engrenagens é a peça principal que faz a máquina
funcionar? Os constantes acidentes de trabalho que acometiam centenas de trabalhadores
anualmente durante a década de 1930? Acredito que ambas as questões são
pertinentes para aquela cena.
Em seu livro
O Capital do filósofo, historiador,
economista, teórico político e jornalista Karl Heinrich Marx, também fala sobre
esse aspecto da Revolução Industrial:
“O excesso de especialização pode
levar a desgastante rotina, fadiga física e mental, chegando à loucura.”
Karl Heinrich Marx
No próprio
filme o operário-vagabundo é confundido com um líder comunista ao tentar
devolver uma bandeira vermelha, que caiu de um caminhão e acaba em frente de um
grupo de grevistas.
O visionário
Chaplin traz em seu filme a presença da supervisão por câmera de vigilância,
algo ficcional para seu período histórico, mas que hoje é realidade em
praticamente todas as fábricas. Por meio desta câmera o proprietário da fábrica
pode acompanhar o trabalho dos funcionários e ditar o ritmo das esteiras de
produção conforme a necessidade.
Nosso herói
é levado para um hospital depois de seu surto de loucura dentro da fábrica.
Após breve tratamento ele recebe alta e não é aceito de volta na fábrica. Agora
nosso herói vagabundo-operário está doente e desempregado em meio a uma cidade
aonde impera o desemprego, fome, greves e desordem social. Chaplin acaba preso
ao tentar ajudar uma jovem que roubava bananas para alimentar suas irmãs
menores e seu pai desempregado. Encontramos afirmações que fazem eco há esses
eventos no texto de Francisco Iglésias:
“Foi exatamente esse aumento (na
produção), levando à dispensa de muitos, que trouxe a revolta contra a máquina,
ao longo de toda a primeira Revolução Industrial, vista como inimiga pelos
trabalhadores, pela dispensa de gente provocada.”
Francisco Iglésias,
A Revolução Industrial. Pg. 88.
Na obra cinematográfica de
Chaplin, Tempos Modernos o operário-vagabundo apaixona-se pela jovem que por
fome roubava comida, ele vai trabalhar numa loja de departamentos como
segurança, até que nosso herói volta à fábrica como ajudante de mecânico no
reparo das máquinas.
No
desenvolver dessa trama o mecânico chefe cai dentre as engrenagens e fica
preso. O operário-vagabundo tenta de todas as maneiras retirar o companheiro
das engrenagens. Aqui vemos Chaplin fazendo alusão aos constantes acidentes que
acometiam os trabalhadores nas fábricas, pois as mesmas levavam mais em
consideração a produção do que a segurança humana. Para o proprietário burguês
o que importava não era a segurança do homem, mas a funcionabilidade plena da
máquina, pois está lhe renderia capital o homem é substituível.
No filme Tempos Modernos de Charles Spencer Chaplin,
somos atraídos pela comédia e levados a refletir sobre nossa sociedade
capitalista e sua desumana visão das pessoas como meras peças das engrenagens
da industrialização. Uma clara e lucida visão de seu tempo e do futuro. Um descontentamento
com a sociedade moderna industrial e a burguesia industrial que dita seu ritmo
tão atual como quando foi filmado.
Bibliografia:
IGLÉSIAS, Francisco. A Revolução Industrial. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1981.
CHAPLIN, Charles Spencer. Tempos Modernos. [Filme-vídeo]. Produção de Patríciu
Santans, direção de Charles Chaplin. 1936, 1 DVD, 87 min.