I
-
Não escrevas sem conheceres o assunto de que tratas.
II
-
Faze do jornal um órgão ativo de educação e criação; e jamais um órgão passivo,
escravizado às massas.
III
-
Respeita o teu leitor; ele confia na tua informação; sê verdadeiro e justo.
IV
-
O século 19 foi o século do jornal disponível, a praça, onde se erguiam as
vozes de todas as opiniões; mas este século cheio de angústias, é o século do
jornal doutrinário, porque o povo quer se orientar.
V
-
Uma grande manchete escandalosa pode render mais alguns níqueis no balcão, mas
pode custar o preço da dignidade de um jornal.
VI
-
Pensa três dias antes de publicares um ataque pessoal; ao fim de três dias,
mesmo quando esse ataque for considerado justo, substitue, se puderes, esse
artigo por uma página doutrinária.
VII
-
Risca do teu dicionário toda palavra caluniosa, injuriosa, imoral, grosseira; é
uma questão de higiene e de decência, de nobreza e de estética.
VIII
-
Eleva-te; verás melhor e todos te verão melhor
IX
- Quando tratares de fatos concretos,
pergunta-te: - tenho provas?
X
-
Sempre que tratares de uma questão técnico-especializada, em que não sejas
profundo, não te entregues ao critério de um único especialista; muitos jornais
honestos adquiriram injusta fama de venalidade porque seus diretores não
tiveram essa preocupação.
XI
-
Cuidado com os amigos, mais do que do que com os inimigos; estes já os
conheces, mas aqueles podem, até mesmo de boa fé, servir a interesses
desconhecidos ou inconfessáveis.
XII
-
Defende e prestigia a tua classe; sê solidário com os teus colegas; e ao teu
próprio adversário. Se ele é digno, rende-lhe as homenagens nos limites da tua
dignidade socorrendo-o nos momentos que se tornar necessário o teu concurso.
XIII
-
Não disfarces com a neutralidade da matéria paga qualquer publicação que contrarie
a orientação do teu jornal.
XIV
-
Lembra-te de que o teu jornal tem ingresso nas casas das famílias brasileiras,
evita tudo que puder ofender a dignidade de olhos e ouvidos cristãos.
XV
-
Não acredites que a mentira possa prestar serviços à tua causa; a verdade pode
não conseguir as primeiras vitórias, porém, a última sempre lhe pertence.
XVI
-
É uma injúria ao povo e um grande erro dizer que um jornal precisa descer de
nível para que o público o compreenda; crê nas poderosas intuições do povo e
estimula nele a consciência do seu valor, em vez de deprimi-la.
XVII
-
Evita a exploração do sensacionalismo; além de constituir um comércio da
desgraça alheia é um incentivo pernicioso aos espíritos fracos.
XVIII
-
Realiza a independência financeira do teu jornal; a imoralidade da redação
procede sempre da penúria da gerência.
XIX
-
Defende a liberdade da imprensa, mas não confundas liberdade com o direito de
calúnia, de injúria, de mentira e de venalidade.
XX
-
Escreve como se escrevesses com o teu próprio sangue, à luz de tua própria
alma.
XXI
-
Quando te sentares à tua mesa, para escrever aos teus concidadãos, lembra-te
que toda a tua dignidade profissional decorre de estares em função dos
superiores interesses nacionais.
Retirado
de: Salgado, Plínio. Reconstrução do Homem (Código de Ética do Jornalista -
1935). Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira S. A..