A que misterioso ritmo obedece esse estranho rumor, a princípio vago e
indistinto, já agora nítido e altissonante, que perpassa pela superfície da
terra, dando a volta ao seu meridiano?
Que sentido profundo traz essa agitação geral dos povos, a tragédia
surda dos espíritos, a angústia dos oprimidos e o sobressalto dos opressores?
As cidades cresceram para os céus. Os mares coalharam-se de naves de
aço. O homem percorre a amplidão com asas de águia. A terra multiplicou as suas
messes, as indústrias multiplicaram os seus benefícios. Todos os confortos
imagináveis se tornaram realidades banais. Todos os sonhos de beleza e de
magnificência foram ultrapassados. E nunca o homem dominou mais os elementos,
nunca imperou melhor sobre a natureza.
Rufam os motores dos aviões; gritam locomotivas; fonfonam os
automóveis; uivam as s as sereias das fábricas; estrondam as usinas; mugem os navios; sibilam polés estridulam
guindastes; cantam os rádios... É a sinfonia planetária...
As máquinas produzem por milhares de homens. A Civilização esplende
nas suas grandes Metrópoles. Nunca a humanidade foi tão rica, nunca o gênero
humano conheceu maior fartura.
E, entretanto, nunca houve desespero maior, nunca o ser humano
mergulhou em confusão tão grande, tão desnorteadora.
Nas modernas babilônias cresce a legião dos desocupados; há criaturas
sem teto, que dormem ao relento, ou na promiscuidade dos albergues; e o próprio
trabalho já não é um prazer, mas um triste manobrar de manivelas e de alavancas,
onde toda a iniciativa do Espírito desapareceu.
Outrora, o trabalho tinha qualquer coisa de fino, de sutil, feito de
amor e de entusiasmo, de esperança e de alegria íntima, criadora; e, agora, o
homem sente-se, cada vez mais, submetido a um ritmo mecânico, que o vai
transformando, dia a dia, numa peça do maquinismo da Produção.
Não amando mais o trabalho (e só se ama aquilo onde se realiza a fusão
do Espírito com as necessidades da matéria). Vendo a “arte” ser substituída
pela “técnica”.
O homem moderno vai se tornando um autômato, um boneco de carne e
osso, que será possivelmente substituído por um outro boneco de aço e ferro, quando o barateamento do custo da
produção e a racionalização do trabalho, levada aos extremos que a técnica
sugere, determinar que assim seja.
O instinto da máquina vai avassalando tudo.
O Homem inventou a máquina. A máquina agora, quer fabricar homens. E
se um dia saírem homens do ventre das usinas, também os úteros das mulheres
gerarão homens-máquinas, sem coração, sem afeto, meros aparelhos de produção...
DOREA, Augusta Garcia Rocha (Org). O Pensamento Revolucionário de
Plínio Salgado: uma antologia, São Paulo: Ed. Voz do Oeste, 1988.