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sábado, 7 de maio de 2016

A Misteriosa Cidade de Nan Madol



Em Pohnpei, há um mistério fascinante: o sítio arqueológico de Nan Madol.

Nan Madol é o nome dado ao misterioso complexo arqueológico megalítico localizado à uma curta distância da ilha de Pohnpei, parte da atual Micronésia. Descoberto por desbravadores europeus no início de 1800, ficou conhecida com a Veneza do Pacífico.

A cidade cobre uma área superior a 80 hectares e é composto por mais de cem ilhotas artificiais construídas sobre corais e interligadas através de uma rede de hidrovias construídas por seus habitantes, até hoje desconhecidos.

Diversos motivos tornam este complexo de ilhas artificiais um dos maiores mistérios arqueológicos do nosso planeta.

As ruínas de Nan Madol mostram resquícios de uma arquitetura megalítica sem precedentes. Foi construído utilizando gigantescos blocos de basalto, alguns pesando mais de 50 toneladas e alcançando a marca de 10 metros de altura.



Estudiosos estimam que Nan Madol possua cerca de 250 milhões de toneladas de rocha, porém a fonte de origem dessa enorme quantidade de basalto ainda é desconhecida. Como elas foram transportadas até as ilhotas sobre os corais?

Após a Primeira Guerra Mundial, o complexo de Nan Madol foi dominado pelos Japoneses. Eles realizaram um extensivo estudo das ruínas e de uma boa porção da região sumersa mais próxima. Infelizmente, esse estudo foi perdido durante a Segunda Guerra.

Mergulhadores movidos pelo espírito de aventura, outros em busca de tesouros, regressam de mergulhos em volta de Nan Madol maravilhados com a quantidade de construções perdidas no fundo do oceano. Ainda mais surpreendente foi a descoberta de que as ilhotas mais importantes eram conectadas por meio de túneis sub-aquáticos.



Na mitologia do povo nativo da região é contada uma história sobre a construção de Nan Madol por sacerdotes que magicamente transportavam as pesadas rochas através do ar e as organizavam nas pequenas ilhas.

Os nativos praticamente não visitam Nan Madol, pois existe uma antiga lenda que afirma que a morte é certa para aquele que passar uma noite na cidade.

Algumas teorias alegam que Nan Madol é uma pequena parte remanescente do lendário continente perdido de Mu que teria abrigado uma civilização conhecida como Lemúria.



Nunca ouviu falar? E essa falta de conhecimento generalizado do mundo com tal preciosidade é indicativo do quanto ainda precisamos melhorar nosso senso histórico do que é importante ser preservado… Pois Nan Madol foi uma cidade construída no meio do mar. Com ilhas artificiais e tudo. Há muitos séculos antes da chegada dos europeus na região. A área hoje é conhecida como a “Veneza do Pacífico”, pelo intricado labirinto de canais que circunda enormes construções de basalto onde um dia habitou uma civilização.

Civilização esta que devia ter um conhecimento tecnológico impressionante, pois não só conseguiram em pleno século XII construir no meio do Pacífico um dique de contenção impressionante, mas estabeleceram uma cidade inteira com prédios enormes estruturados em fundações de corais, algo ÚNICO arquitetônica e arqueologicamente no mundo. É uma espécie de Machu Pichu do meio do Pacífico, imponente e muito, mas MUITO, impressionante.



De acordo com este estudo sobre Nan Madol, essa forma de fazer paredões – com grandes pedaços de basalto intercalados por pequenos pedaços do mesmo basalto e enchimento de coral – é única no mundo.


Estudos geológicos feitos há muitas décadas mostraram que o basalto das construções em Nan Madol é de um tipo encontrado apenas no noroeste de Pohnpei – mas Nan Madol fica no sudeste, ou seja, do lado oposto da ilha, e começa aí o mistério: como essas pedras enormes, de muitas toneladas, foram levadas até o mar para fazer a construção? Não dá pra passar pelo centro super-montanhoso da ilha, que até hoje é desabitado – é uma barreira intransponível, sem túneis ou estradas. Ou seja, o transporte teve que ser feito pelo mar, ao redor da ilha. Mas como?



Há poucos anos, tentou-se fazer uma canoa típica da região para carregar apenas um pedaço de rocha equivalente aos maiores encontrados em Nan Madol, e… nada. Não conseguiram deslocar sequer uma pedra. Obviamente essas pedras foram carregadas de uma forma tecnológica pohnpeiana que se perdeu no tempo, infelizmente.

O início da construção de Nan Madol acredita-se ter acontecido no século VIII, mas a civilização dos Saudeleur (que supostamente habitava Nan Madol) floresceu mesmo do século XII ao XV. Depois disso, houve sua queda, e não sabemos se o contato com os europeus acelerou tal queda, ou se o império dos Saudeleur já estava mesmo enfraquecido por conflitos com outros povos da região – há estruturas menores no estilo de Nan Madol em Kosrae também. E… para que servia tal cidade? Era o povo Saudeleur grandes comerciantes, guerreiros ou apenas ali viviam? Como desapareceram? E por que nada sobrou de seu império a não ser a cidade? Por que os Pohnpeianos não gostam de falar deles, e acreditam que o lugar é amaldiçoado?



Eis aí a principal característica de Nan Madol: a quantidade de perguntas sem resposta é maior que a nossa própria curiosidade.

Há duas formas de visitar: entrando pelos fundos da cidade, numa trilha terrestre de algumas milhas e muita mata; ou de barco, entrando pela “rua” principal com a estrutura mais imponente logo na entrada, o que só é possível fazer na maré alta.

A maré alta é realmente o momento ideal, porque em certas áreas o canal é bem raso. Os peixinhos abundam: afinal, há ali pertinho recifes de corais magníficos, e do outro lado, um manguezal de saúde avassaladora. A fauna é outra riqueza única deste sítio arqueológico.

A cidade está coberta de vegetação, dada a falta de recursos com que vem se tentando mantê-la. O mangue impera em meio às ruínas. É sem dúvida a maior ausência da lista de Patrimônio da Humanidade da UNESCO. Nan Madol tem cerca de 1000 visitantes por ano – se compararmos com a Ilha de Páscoa, cujos moais esculturais atraem mais de 50,000 visitantes por ano, Nan Madol é realmente uma maravilha da história da humanidade totalmente esquecida, abandonada.



É como se estivéssemos dando as costas a tal maravilha, e esse sentimento gera uma certa revolta – pois se Nan Madol estivesse na Europa ou num ponto mais conhecido do planeta, já estaria há muito protegida. Mas está na Micronésia, terra esquecida da maior parte das pessoas, então… fadada talvez ao mesmo esquecimento. Uma lástima de deixar lágrimas nos olhos.



P.S.: Os pohnpeianos acreditam que Nan Madol foi resultado de magia. Incrível como para tudo que não conseguimos explicar de maneira racional, esta desculpa logo aparece, não é mesmo?

Referências:

Fotos: André Seale



Fotos de Nan Madol









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Construindo História Hoje 







Sofistas


Protagoras, filosofo sofista.

Os sofistas eram considerados mestres da retórica e da oratória, acreditavam que a verdade é múltipla, relativa e mutável. Protágoras foi um dos mais importantes sofistas.

Na Grécia Antiga, haviam professores itinerantes que percorriam as cidades ensinando, mediante pagamento, a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal finalidade de seus ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política. Tudo o que temos desses professores são fragmentos e citações e, por isso, não podemos saber profundamente sobre o que eles pensavam. Aquilo que temos de mais importante a respeito deles foi aquilo que disseram seus principais adversários teóricos, Platão e Aristóteles.

Eles eram chamados de sofistas, termo que originalmente significaria “sábios”, mas que adquiriu o sentido de desonestidade intelectual, principalmente por conta das definições de Aristóteles e Platão. Aristóteles, por exemplo, definiu a sofística como "a sabedoria (sapientia) aparente mas não real”. Para ele, os sofistas ensinavam a argumentação a respeito de qualquer tema, mesmo que os argumentos não fossem válidos, ou seja, não estavam interessados pela procura da verdade e sim pelo refinamento da arte de vencer discussões, pois para eles a verdade é relativa de acordo com o lugar e o tempo em que o homem está inserido.

O contexto histórico e sociopolítico é importante para que se compreenda o papel e o pensamento dos sofistas para a sociedade grega. Embora Anaxágoras tenha sido o filósofo oficial de Atenas na época do regime de Péricles, não havia um sistema público de ensino superior, então jovens que podiam pagar por instrução recorriam aos sofistas a fim de se prepararem para as dificuldades que enfrentariam na vida adulta. Uma delas, imposta pelo exercício da democracia, era a dificuldade de resolver divergências pelo diálogo tendo em vista um interesse comum. O termo “sofista” não corresponde, portanto, a uma escola filosófica e sim a uma prática. Mesmo assim, podemos elencar algumas caracterizações comuns aos sofistas:

a) Oposição entre natureza (phýsis) e cultura (nómos): Pelo que sabemos, podemos dizer que a maior parte dos sofistas tinha seu interesse filosófico concentrado nos problemas do homem e da natureza. Isso significa que aquilo que é dado por natureza não pode ser mudado, como a necessidade que os homens têm de se alimentar. O que é dado por cultura pode ser mudado, como, por exemplo, aquilo que os homens escolhem como alimento. Ou seja, todos nós precisamos da alimentação para continuarmos vivos, mas na China, a carne dos cães pode fazer parte do cardápio e, na Índia, o homem não pode se alimentar da carne bovina, pois a vaca é considerada um animal sagrado.

b) Relativismo. Para os sofistas, tudo o que se refere à vida prática, como a religião e a política, era considerado fatores culturais, logo podiam ser modificados. Dessa forma, colocavam as normas e hábitos em dúvida quanto à sua pertinência e legitimidade. Como eles eram relativistas, suas questões podiam ser levadas para o seguinte sentido: as leis estabelecidas são pertinentes para essa cidade ou precisam ser mudadas?

c) A existência dos deuses. Para os sofistas, é mais provável que os deuses não existam, mas eles não rejeitam completamente a existência, como Platão, por exemplo. Portanto, eles são mais próximos do agnosticismo do que do ateísmo. A diferença entre os sofistas e aqueles que acreditavam nos deuses – e a educação grega esteve, no início, ligada à existência e interferência dos deuses nos destinos da humanidade – é que eles preferiam não se pronunciar a respeito. Mas, se os deuses existissem, eles não teriam formas e pensamentos humanos.

d) A natureza da alma. A definição de alma para os sofistas é de uma natureza passiva e podia ser modelada pelo conhecimento que vem do exterior. Isso é muito importante para a prática que eles exerciam, pois, se as pessoas possuem almas passivas, elas podem ser convencidas de qualquer discurso proferido de forma encantadora. Por isso, era preciso lapidar a técnica a fim de levar as pessoas a pensarem de um modo que favoreça o orador, ou seja, aquele que está falando para o público. A resistência que alguma pessoa oferece a algo que é dito não seria proveniente da capacidade de refletir ou questionar e sim era decorrência da inabilidade discursiva do orador.

e) Rejeitam questões metafísicas. Os sofistas estavam bastante empenhados em resolver questões da vida prática da pólis. Aquilo que contribuiria para uma vida melhor com os outros ou para atender às necessidades imediatas era o centro de suas preocupações. Por concentrarem seus esforços para pensar naquilo que consideravam útil, questões como a origem do seres, a vida após a morte e a existência dos deuses, ou seja, questões de ordem metafísica, eram rejeitadas.

f) A habilidade de argumentar, mesmo se as teses fossem contraditórias, também era um de seus fundamentos. Apesar da dura crítica feita a eles, o trabalho dos sofistas respondia a uma necessidade da época: com o desenvolvimento e a consolidação da democracia na Atenas do século V a.C., era imprescindível desenvolver a habilidade de argumentar em público, defender suas próprias ideias e convencer a maior parte da assembleia a concordar com aquilo que os beneficiaria individualmente.

g) Antilógica. Uma estratégia de ensino comum aos sofistas era ensinar os jovens a defenderem uma posição para, em seguida, defenderem seu oposto. Essa técnica argumentativa foi chamada de antilógica e foi criticada por Platão e Aristóteles por corromper os jovens com a prática da mentira. Historiadores contemporâneos, no entanto, consideram essa técnica como uma atividade característica do espírito democrático por respeitar a existência de opiniões diferentes (cf. CHAUÍ, Marilena).

Os mais conhecidos sofistas foram Protágoras de Abdera (c. 490-421 a.C.), Górgias de Leontinos (c. 487-380 a.C.), Hípias de Élis, Isócrates de Atenas, Licofron, Pródicos e Trasímaco. Vamos agora conhecer um dos mais importantes, Protágoras.
Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”

Um dos responsáveis para que Protágoras se tornasse um dos mais conhecidos sofistas foi Platão, que dedicou a ele uma obra, o que mostra que o filósofo, mesmo sem concordar com o sofismo, respeitou o pensamento de Protágoras ao ponto de se dedicar a elaborar objeções. Além de ensinar a arte do debate aos jovens em suas muitas visitas a Atenas (lembre-se de que os sofistas eram professores itinerantes, isto é, não residiam em um lugar específico), foi nomeado por Péricles para redigir a constituição de uma colônia ateniense (cf. KENNY, Anthony).

No diálogo Teeteto, Platão traz um importante pensamento de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são e das que não são como não são”. Isso significa, em outras palavras, que se uma pessoa pensa que uma coisa é verdade, tal coisa é a verdade para ela. Ou seja, a verdade é subjetiva e relativa, não objetiva e absoluta. Por exemplo, se uma pessoa está com febre, ela pensa que a temperatura do ambiente está baixa, mesmo que ela esteja em Fortaleza e os termômetros apontem 38 graus.

Como não há uma verdade objetiva a ser considerada, a verdade sempre seria relacionada aos indivíduos. Em relação à crença nos deuses (como sabemos, a sociedade grega era politeísta), o relativismo tem a consequência de que não há uma crença mais correta do que a outra, todas devem ser respeitadas, pois o homem não pode saber nada a respeito dos deuses, se existem ou como são. Quando diz isso, Protágoras se aproxima do agnosticismo. Em suas palavras, que chegaram a nós por Diogenes Laertios:

“No que diz respeito aos deuses, não posso ter a certeza de que existem ou não, ou de como eles são; pois entre nós e o conhecimento deles há muitos obstáculos, quer a dificuldade do assunto, quer a pouca duração da vida humana”.

Diogenes Laertios, ao criticar Protágoras, nota que sua obra foi queimada em praça pública por atenienses que acreditavam que ele corrompia a juventude e ironiza, dizendo que ele foi o primeiro homem a dizer que em relação a qualquer assunto há duas afirmações contraditórias. Depois, Platão objetou que se todas as crenças são verdadeiras, a crença de que nem todas as crenças são verdadeiras também é verdadeira.

A técnica argumentativa dos sofistas foi registrada por Protágoras em sua obra Antilogia. Para ele, era preciso aprender a argumentar pró e contra determinada posição, pois todas são verdadeiras. A antilógica era um bom recurso para se preparar para debates, pois ao se conhecer profundamente os principais argumentos contra e a favor de determinado assunto, é possível defender bem qualquer posição tomada sobre ele e objetar com eficácia os argumentos dos adversários.

Resumindo

* Contexto histórico: Consolidação da democracia em Atenas no século V. a.C.

* Os sofistas: não se trata de uma escola filosófica;

* Eram professores itinerantes que ensinavam os jovens, mediante pagamento, a arte da oratória, imprescindível para a vida adulta em um regime democrático;

* O que sabemos deles é em grande parte aquilo que foi citado por seus principais adversários teóricos e, por isso, não podemos ter uma conclusão adequada sobre o que eles pensavam;

* Entre os mais importantes sofistas estão Protágoras e Górgias.

* Protágoras pensava que o homem é a medida de todas as coisas, inclusive da verdade que não poderia ser pautada, portanto, pela fé nos deuses. Seu pensamento pode ser considerado humanista e relativista.

Referências:


CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Editora Ática, 2000.

KENNY, Anthony. História Concisa da Filosofia Ocidental. Lisboa, Temas e Debates, 1999.

LAÊRTIOS; D. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Tradução, introdução e notas: Mário da Gama Kury. 2ed. Brasília, editora Universidade de Brasília, 2008.


PLATÃO. Diálogos I : Teeteto (ou do conhecimento), Sofista (ou do ser), Protágoras (ou sofistas). Tradução e textos complementares: Edson Bini. Editora: EDIPRO. Bauru, 2007.
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