Em Pohnpei, há um mistério
fascinante: o sítio arqueológico de Nan Madol.
Nan Madol é o nome dado ao
misterioso complexo arqueológico megalítico localizado à uma curta distância da
ilha de Pohnpei, parte da atual Micronésia. Descoberto por desbravadores
europeus no início de 1800, ficou conhecida com a Veneza do Pacífico.
A cidade cobre uma área
superior a 80 hectares e é composto por mais de cem ilhotas artificiais
construídas sobre corais e interligadas através de uma rede de hidrovias
construídas por seus habitantes, até hoje desconhecidos.
Diversos motivos tornam este
complexo de ilhas artificiais um dos maiores mistérios arqueológicos do nosso
planeta.
As ruínas de Nan Madol
mostram resquícios de uma arquitetura megalítica sem precedentes. Foi
construído utilizando gigantescos blocos de basalto, alguns pesando mais de 50
toneladas e alcançando a marca de 10 metros de altura.
Estudiosos estimam que Nan
Madol possua cerca de 250 milhões de toneladas de rocha, porém a fonte de
origem dessa enorme quantidade de basalto ainda é desconhecida. Como elas foram
transportadas até as ilhotas sobre os corais?
Após a Primeira Guerra
Mundial, o complexo de Nan Madol foi dominado pelos Japoneses. Eles realizaram
um extensivo estudo das ruínas e de uma boa porção da região sumersa mais
próxima. Infelizmente, esse estudo foi perdido durante a Segunda Guerra.
Mergulhadores movidos pelo
espírito de aventura, outros em busca de tesouros, regressam de mergulhos em
volta de Nan Madol maravilhados com a quantidade de construções perdidas no
fundo do oceano. Ainda mais surpreendente foi a descoberta de que as ilhotas
mais importantes eram conectadas por meio de túneis sub-aquáticos.
Na mitologia do povo nativo
da região é contada uma história sobre a construção de Nan Madol por sacerdotes
que magicamente transportavam as pesadas rochas através do ar e as organizavam
nas pequenas ilhas.
Os nativos praticamente não
visitam Nan Madol, pois existe uma antiga lenda que afirma que a morte é certa
para aquele que passar uma noite na cidade.
Algumas teorias alegam que
Nan Madol é uma pequena parte remanescente do lendário continente perdido de Mu
que teria abrigado uma civilização conhecida como Lemúria.
Nunca ouviu falar? E essa falta de conhecimento generalizado do
mundo com tal preciosidade é indicativo do quanto ainda precisamos melhorar
nosso senso histórico do que é importante ser preservado… Pois
Nan Madol foi uma cidade construída no meio do mar. Com ilhas artificiais e
tudo. Há muitos séculos antes da chegada dos europeus na região. A área hoje é
conhecida como a “Veneza do Pacífico”, pelo
intricado labirinto de canais que circunda enormes construções de basalto onde
um dia habitou uma civilização.
Civilização esta que devia
ter um conhecimento tecnológico impressionante, pois não só conseguiram em
pleno século XII construir no meio do Pacífico um dique de contenção impressionante,
mas estabeleceram uma cidade inteira com prédios enormes estruturados em
fundações de corais, algo ÚNICO arquitetônica e arqueologicamente no mundo. É
uma espécie de Machu Pichu do meio do Pacífico, imponente e muito, mas MUITO,
impressionante.
De acordo com este estudo
sobre Nan Madol, essa forma de fazer paredões – com grandes pedaços de basalto
intercalados por pequenos pedaços do mesmo basalto e enchimento de coral – é
única no mundo.
Estudos geológicos feitos há
muitas décadas mostraram que o basalto das construções em Nan Madol é de um
tipo encontrado apenas no noroeste de Pohnpei – mas Nan Madol fica no sudeste,
ou seja, do lado oposto da ilha, e começa aí o mistério: como essas pedras
enormes, de muitas toneladas, foram levadas até o mar para fazer a construção?
Não dá pra passar pelo centro super-montanhoso da ilha, que até hoje é
desabitado – é uma barreira intransponível, sem túneis ou estradas. Ou seja, o
transporte teve que ser feito pelo mar, ao redor da ilha. Mas como?
Há poucos anos, tentou-se
fazer uma canoa típica da região para carregar apenas um pedaço de rocha
equivalente aos maiores encontrados em Nan Madol, e… nada. Não conseguiram
deslocar sequer uma pedra. Obviamente essas pedras foram carregadas de uma
forma tecnológica pohnpeiana que se perdeu no tempo, infelizmente.
O início da construção de
Nan Madol acredita-se ter acontecido no século VIII, mas a civilização dos Saudeleur (que supostamente habitava Nan Madol) floresceu mesmo
do século XII ao XV. Depois disso, houve sua queda, e não sabemos se o contato
com os europeus acelerou tal queda, ou se o império dos Saudeleur já estava
mesmo enfraquecido por conflitos com outros povos da região – há estruturas
menores no estilo de Nan Madol em Kosrae também. E… para que servia tal cidade?
Era o povo Saudeleur grandes comerciantes, guerreiros ou apenas ali viviam?
Como desapareceram? E por que nada sobrou de seu império a não ser a cidade?
Por que os Pohnpeianos não gostam de falar deles, e acreditam que o lugar é
amaldiçoado?
Eis aí a principal
característica de Nan Madol: a quantidade de perguntas sem resposta é maior que
a nossa própria curiosidade.
Há duas formas de visitar:
entrando pelos fundos da cidade, numa trilha terrestre de algumas milhas e
muita mata; ou de barco, entrando pela “rua” principal com a estrutura mais
imponente logo na entrada, o que só é possível fazer na maré alta.
A maré alta é realmente o
momento ideal, porque em certas áreas o canal é bem raso. Os peixinhos abundam:
afinal, há ali pertinho recifes de corais magníficos, e do outro lado, um
manguezal de saúde avassaladora. A fauna é outra riqueza única deste sítio
arqueológico.
A cidade está coberta de
vegetação, dada a falta de recursos com que vem se tentando mantê-la. O mangue
impera em meio às ruínas. É sem dúvida a maior ausência da lista de Patrimônio
da Humanidade da UNESCO. Nan Madol tem cerca de 1000 visitantes por ano – se
compararmos com a Ilha de Páscoa, cujos moais esculturais atraem mais de 50,000
visitantes por ano, Nan Madol é realmente uma maravilha da história da
humanidade totalmente esquecida, abandonada.
É como se estivéssemos dando
as costas a tal maravilha, e esse sentimento gera uma certa revolta – pois se
Nan Madol estivesse na Europa ou num ponto mais conhecido do planeta, já
estaria há muito protegida. Mas está na Micronésia, terra esquecida da maior
parte das pessoas, então… fadada talvez ao mesmo esquecimento. Uma lástima de
deixar lágrimas nos olhos.
P.S.: Os pohnpeianos
acreditam que Nan Madol foi resultado de magia. Incrível como para tudo que não
conseguimos explicar de maneira racional, esta desculpa logo aparece, não é
mesmo?
Referências:
Fotos: André Seale
Fotos de Nan Madol
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