É impossível contar a brilhante trajetória do Fusca sem mencionar duas
importantes personalidades que estiveram por trás deste notável projeto desde a
sua idealização. Um deles é considerado um gênio da indústria automobilística;
o outro foi um dos maiores e mais temíveis ditadores do século XX. Ambos,
coincidentemente, austríacos. O ditador atendia pelo nome de Adolf Hitler, o
homem que pegou uma Alemanha falida e devastada pela Primeira Guerra Mundial e
que conseguiu transformar um país decadente em uma potência mundial,
recuperando a auto-estima do povo alemão que acreditou que ele seria o salvador
da terras germânicas.
O gênio era Ferdinand Porsche, um engenheiro autodidata que nasceu em
Maffersdorf, uma pequena cidade nos confins do Império Austro-Húngaro. Desde
jovem, ele já demonstrava uma grande habilidade em mecânica e, quando completou
18 anos foi indicado para uma vaga de trabalho em Viena, na empresa de Bela
Egger. Seu talento natural e seus conhecimentos técnicos eram tão grandes que
em poucos anos foi promovido ao cargo de diretor de testes e desenvolvimento da
empresa.
Enquanto Porsche trabalhava como diretor técnico da Austro-Daimler,
fabricante de modelos de luxo nos anos 20, ele começou a desenvolver carros e
corrida e a dividir-se entre a função de projetista e de piloto de teste. No
ano de 1922 chegou a ganhar algumas corridas com as suas criações.
Mas, o que será que um ditador, um projetista de carros de luxo e o
carro mais popular do mundo têm em comum?
No ano de 1934, quando Hitler tomou o poder na Alemanha, ele concebeu
a idéia do Volkswagen, que em alemão significa “carro do povo”, inspirado no
sucesso que já fazia o Ford T na época. Durante o seu discurso de abertura do
Auto Show de Berlim, o ditador declarou que considerava o desenho e a
construção do carro do povo como uma medida prioritária para a indústria
automobilística alemã. Acrescentou ainda
que esse veículo deveria desenvolver velocidade máxima de 100 Km/h, pois as
cidades eram distantes. Deveria ser capaz de enfrentar subidas com até 30% de
elevação e consumir no máximo 7 litros a cada 100 Km, pois o combustível era
caro (o povo não poderia gastar mais de 3 marcos a cada 100 Km). Seria preciso
ter espaço para, no mínimo, quatro pessoas, custar, no máximo, 1.000 marcos
imperiais e, principalmente, ser refrigerado a ar, porque nem todas as casas
alemãs possuíam garagem e, no inverno, a água no radiador certamente
congelaria.
E é ai que entra Ferdinand Porsche, na história, pois foi a ele dada a
árdua tarefa de desenvolver o projeto do sonhado carro popular. Ele foi
escolhido porque, alguns anos antes, em 1931 já morando na Alemanha, havia
feito protótipos de carros populares encomendados por dois fabricantes de
motocicletas.
A proposta, no entanto, continuou sendo uma ilusão para muitos. Um dos
críticos da época ironizou: “Um carro para trabalhadores? E por que não uma
casa na 5° Avenida de Nova Iorque para cada um?”.
Tempos depois, Hitler tomou conhecimento dos projetos de Porsche e o
convidou para dar forma a seu sonho em parceria com o governo alemão. Em junho de 1934 foi assinado um acordo entre
a Associação Nacional da Indústria Automobilística Alemã e Ferdinand Porsche.
Naquela época, na Alemanha, havia 1 carro para cada 49 pessoas,
enquanto que nos Estados Unidos a proporção era de 1 carro para cada 4,5
americanos.
Por economia, os protótipos foram montados com ajuda de operários na
garagem da casa do próprio Porsche, em Stuttgard.
No dia 10 de outubro de 1936, ficaram prontos os três primeiros protótipos
Volkswagen, os Volksauto-série VW-3 que foram testados por 50 mil quilômetros
cada um.
Os primeiros carros não tinham quebra ventos, nem pára-choques ou
vidros traseiros. As portas se abriam ao contrário dos demais modelos mais
“modernos”. Já em 1936 o protótipo do Fusca ganhou carroceria com o desenho que
o consagrou.
A partir de 1938 foi iniciada a construção de uma fábrica em Hannover
para produzir algumas unidades do modelo.
A inauguração aconteceu em maio do mesmo ano. A cerimônia nazista foi
preparada para marcar o grande feito e entrar para a história, pelo menos era
ISS que Hitler esperava, pois ele tinha como objetivo “esmagar os gigantes de
Detroit”.
Foi então que Ferdinand Porsche sofreu uma grande decepção quando Hitler
comunicou que colocaria o nome de KDF Wagen no carro. E este foi a apenas o
começo de uma longa história.
KDF era abreviação de Kraft Durch Freude, nome escolhido pelo ditador
Adolf Hitler, que significava “Força através da Alegria”. Os objetivos de Adolf
começavam a ganhar formar.
Em agosto de 1938, durante o discurso no lançamento da pedra
fundamental da futura fábrica do Fusca, Hitler declarou:
“Esse carro deve ter o mesmo nome da organização que trabalha
arduamente para prover a grande massa de nossa população com alegria e
satisfação e, portanto com força. Ele deve ser chamado de KDF Wagen! Eu procedo
a colocação desta pedra fundamental em nome do povo alemão! Esta fábrica deverá
surgir da força de todo o povo alemão”.
Porsche ficou horrorizado, pois comentou “que nunca iríamos vender um
carro com esse nome em outro país”. Mais tarde, tanto o nome da fábrica como o
do carro mudariam para Carro do Povo.
Os planos para um carro do povo foram muito além de um simples meio de
transporte de uso diário. O veículo foi submetido à diversas alterações, o que
o tornou um carro de uso misto dentro do exército alemão. Assim foram criados o
Kommanderwagen, o Schwimnwagen e o Kulbelwagen. Todos derivados do nosso
querido fusquinha.
O Kommanderwagen era destinado aos comandantes do exército alemão e
outras altas patentes militares.
O Schwimnwagen era destinado a terrenos alagados e foi o primeiro
“anfíbio” europeu de guerra a ser fabricado em grande quantidade.
O Kulbelwagen era uma espécie de jipe alemão da época. Seu peso era tão reduzido que o tornava mai
veloz, o que permitia que passasse por cima de minas para detoná-las.
Após a derrota na II Guerra Mundial, a fábrica Wolfsburg ( antiga
Fallersleben) ficou praticamente destruída devido aos bombardeios. A área
passou a ser ocupada pelos ingleses que, liderados pelo major Ivan Hirst,
retomaram a produção dos primeiros Fuscas após o conflito.
Os primeiros Fuscas chegaram ao Brasil no final 1950, o primeiro lote
desembarcou no porto de Santos. Foram 30 unidades negociadas rapidamente. Daí
para frente se tornou uma paixão nacional.
http://www.volkswagen.de/
http://galerie.cult7.de/index.php/cultseven_gallery/