Extraído de “Has man a
future?” de Bertrand Russell
O pessimista poderia argumentar: Por que tentar preservar
a espécie humana? Não deveríamos antes nos alegrar à perspectiva de um fim para
a imensa carga de sofrimento, e ódio, e
medo, que tem até agora enegrecido a vida do Homem? Não deveríamos contemplar
com alegria um novo futuro para nosso planeta, pacífico, dormindo tranquilo
finalmente, depois de chegar ao fim do longo pesadelo de miséria e horror?
A qualquer estudante de História que contemple o terrível
registro de loucura e crueldade que tem constituído a maior parte da vida da
humanidade até agora, tais perguntas devem ocorrer em momentos de compreensão.
Talvez esse exame possa tentar-nos a concordar com um fim, por mais trágico e
definitivo que seja, para uma espécie tão incapaz de sentir alegria.
Mas o pessimista tem somente metade da verdade e, a meu
ver, a metade menos importante. O Homem não tem apenas a capacidade para a crueldade
e o sofrimento, mas possui também potencialidades de grandeza e esplendor,
realizadas até agora em grau diminuto, porém evidenciando o que poderia ser a
vida num mundo mais livre e mais feliz. Se o Homem permitir a si mesmo crescer em toda
a sua estatura, o que poderá conseguir está além da nossa imaginação. A
pobreza, a doença e a solidão tornar-se-iam raros infortúnios. Uma razoável
esperança de felicidade poderia dissipar a noite de medo na qual tantos agora
vagam perdidos. E com o progresso da evolução, o que é agora o gênio fulgurante
de uma minoria notável poderia tornar-se patrimônio comum da maioria. Tudo isso
é possível, provável, sem dúvidas, nos milhares de séculos que jazem à nossa
frente, se nós, irrefletidos e loucos, não nos destruirmos antes de termos
alcançado a maturidade que deveria ser nosso objetivo. Não, não demos ouvido ao
pessimista, pois se o fizermos, estaremos traindo o futuro do Homem.
Referência:
DORIN,
Lannoy. Enciclopédia de Psicologia
Contemporânea, Vol. 1. São Paulo: Editora Iracema Ltda, 1984.