Lévi-Strauss
e o Estruturalismo I
Voltaire Schilling
Estruturalismo é uma
modalidade de pensar e um método de análise praticado nas ciências do século
XX, especialmente nas áreas das humanidades. Metodologicamente, analisa
sistemas em grande escala examinando as relações e as funções dos elementos que
constituem tais sistemas, que são inúmeros, variando das línguas humanas e das
práticas culturais aos contos folclóricos e aos textos literários.
SAIBA MAIS
Lévi-Strauss e o
Estruturalismo: parte 2
Partindo da Linguistica e da
Psicologia do principio do século XX, alcançou o seu apogeu na época da
Antropologia Estrutural, ao redor dos anos 1960. O Estruturalismo fez do
francês Claude Lévi-Strauss o seu mais celebrado representante, especialmente
em seu estudo sobre os indígenas no Brasil e na América em geral, quando se
dedicou a "busca de harmonias insuspeitas".
As fontes primeiras
Uma das suas primeiras
fontes foi a escola psicológica inaugurada por Wilhelm Wund (1832-1920) que
procurou determinar a estrutura da mente na tentativa de compreender os
fenômenos mentais pela decomposição dos estados de consciência produzidos pelos
estímulos ambientais. Para tanto, o psicólogo defendeu como linha de atuação o
introspeccionismo (o "olhar para dentro") na tentativa de fazer com
que o pesquisador observasse e descrevesse minuciosamente suas sensações em
função das características dos estímulos a que ele era submetido, afastando do
relato tudo aquilo que fosse previamente conhecido.
No campo da linguistica, o
trabalho do francês Ferdinand de Saussure ( Cours de linguistique général ,
1916, publicado pós-morte), empreendido apenas antes da Iª Guerra Mundial,
serviu por muito tempo como o modelo e inspiração da corrente estruturalista de
formação francesa.
A linguística de Sausurre
A característica do
estruturalismo, baseado no inquérito linguístico de Saussure, centrou-se não no
discurso próprio, mas nas regras e nas convenções subjacentes que permitiam a
língua operar: qual a lógica que subjaze oculta por detrás da fala das gentes.
Ao analisar a dimensão social ou coletiva da língua ele abriu caminho e
promoveu o estudo da gramática. Para melhor entendimento do estudo da linguagem
separou-a em langue (língua, o sistema formal da linguagem que governa os
eventos da fala) e a parole (palavra propriamente dita, o discurso, ou os
eventos da fala).
Saussure estava interessado
na infraestrutura da língua, aquilo que é comum a todos os falantes e que
funciona em um nível inconsciente. Seu inquérito concentrou-se nas estruturas
mais profundas da língua, mais do nos fenômenos de superfície, não fazendo
nenhuma referência à evolução histórica do idiomas.
Sincronia e diacronia
Esta atitude cientifica, a
de analisar o objeto do estudo em si, relacionado apenas com o que era-lhe
pertinente, quase que imóvel no tempo, ele chamou de sincrônico, contrapondo-o
ao estudo histórico do mesmo, ao que ele chamou de diacrônico, onde a mudança
está sempre presente. Fiel ao ideário positivista, ele opôs-se ao
evolucionismo, ao hegelianismo e ao marxismo que entendiam qualquer objeto ou
fenômeno como resultante da história. Para ele o que interessava era quais eram
os resultados extraídos da observação direta e o que podia apreender-se delas.
Lévi-Strauss e a
Antropologia Estrutural
No campo dos estudos da
antropologia e do mito, o trabalho foi levado a diante por Claude Lévi-Strauss,
no período imediato à II Guerra Mundial, que divulgou e introduziu os
princípios do estruturalismo para uma ampla audiência, alcançando uma influência
quase que universal, fazendo com que o seu nome, o de Lévi-Strauss, não só se
confundisse com o estruturalismo como se tornasse um sinônimo dele. O
estruturalismo virou "moda" intelectual nos anos 1960 e 1970.
Os livros dele ( O
Pensamento Selvagem , Tristes Trópicos , Antropologia estrutural , As
estruturas elementares do parentesco ), tiveram um alcance que transcendeu em
muito aos interesses dos especialistas ou curiosos da antropologia. Desde
aquela época o estruturalismo de Lévi-Strauss tornou-se referência obrigatória
na filosofia, na psicologia e na sociologia. De certo modo, ainda que
respeitando a indiferença dele pela história ("o etnólogo respeita a
história, mas não lhe dá um valor privilegiado", in O Pensamento Selvagem
, 1970, pag.292), pode-se entender a antropologia estrutural como um método de
tentar entender a história de sociedades que não a têm, como é o caso das
sociedades primitivas.
A valorização das narrativas
mitológicas
Enquanto a ciência
racionalista e positivista do século XIX desprezava a mitologia, a magia, o
animismo e os rituais fetichistas em geral, Lévi-Strauss entendeu-as como
recursos de uma narrativa da história tribal, como expressões legitimas de
manifestações de desejos e projeções ocultas, todas elas merecedoras de serem
admitidas no papel de matéria-prima antropológica. Como é o caso dos seus
estudos sobre o mito (Mythologiques), cuja narrativa oral corria da esquerda
para a direita num eixo diacrônico, num tempo não-reversível, enquanto que a
estrutura do mito (por exemplo o que trata do nascimento ou da morte de um
herói), sobe e desce num eixo sincrônico, num tempo que é reversível. Se bem
que eles, os mitos, nada revelavam sobre a ordem do mundo, serviam muito para
entender-se o funcionamento da cultura que o gerou e perpetuou.
A mesma coisa aplica-se com
o totemismo, poderoso instrumento simbólico do clã para reger o sistema de
parentesco, regulando os matrimônios com a intenção de preservar o tabu do
incesto (cada totem está associado a um grupo social determinado, a uma tribo
ou clã, e todo o sistema de casamentos é estabelecido pelo entrecruzar dos que
filiam-se a totens diferentes). O objetivo dele era provar que a estrutura dos
mitos era idêntica em qualquer canto da Terra, confirmando assim que a estrutura
mental da humanidade é a mesma, independentemente da raça, clima ou religião
adotada ou praticada. Contrapondo o mito à história ele separou as sociedades
humanas em "frias" e "quentes", formando então o seguinte
quadro delas:
Sociedades "frias"
(primitivas) - Encontram-se "fora da história", orientando-se pelo
modo mítico de pensar, sendo que o mito é definido como "máquinas de
supressão do tempo".
Sociedades
"quentes" (civilizadas) - Movem-se dentro da história, com ênfase no
progresso, estando em constante transformação tecnológica. Partindo-se das
idéias de Saussure e do lingüista Roman Jakobson, e do antropólogo
Lévi-Strauss, especificaram-se quatro procedimentos básicos ao estruturalismo:
- Primeiro, a análise
estrutural examina as infraestruturas inconscientes dos fenômenos culturais;
- Segundo, considera os
elementos da infraestrutura
como
"relacionados," não como entidades independentes;
-Terceiro, procura entender
a coerência do sistema;
- Quarto, propõe a
contabilidade geral das leis para os testes padrões subjacentes no sentido da
organização dos fenômenos.